Pátria Minha está de volta, através do Globoplay. A novela de Gilberto Braga, nunca reprisada, foi exibida originalmente entre 18 de julho de 1994 e 10 de março de 1995 no horário “mais nobre” da Globo, às oito.
O período é associado à conquista do Tetra, na Copa do Mundo dos Estados Unidos. O futebol devolveu alegria ao país enlutado pela morte de Ayrton Senna, em 1° de maio de 94. Também à eleição de Fernando Henrique Cardoso, no primeiro turno, para a Presidência da República. FHC estava em alta graças à implantação do Real, moeda que estabilizou a economia.
A trama que reunia Tarcísio Meira, Vera Fischer, José Mayer, Cláudia Abreu e Fábio Assunção estreou no dia seguinte à vitória da Seleção Brasileira. Duas semanas depois, ‘Pátria’ passou a ser exibida mais tarde, por conta da campanha eleitoral.
O especial do site Duh Secco relembra a programação da Globo na época. A Viagem e Quatro por Quatro faziam história às sete, enquanto o remake de Irmãos Coragem dispersava a audiência das seis. A rainha dos baixinhos Xuxa Meneghel dividia espaço com outra monarca: Priscila, da TV Colosso. E o Vídeo Show ocupava posição de destaque…
Ele é um colosso, eu não largo o osso…
A Globo abria a programação às 6h30, com o Telecurso 2° Grau. O Telecurso 2000 ocupou a faixa no primeiro dia útil de 95. Logo depois, o Bom Dia Brasil (7h), ancorado por Luiz Carlos Braga direto de Brasília, e o Bom Dia local (7h30).
A TV Colosso, no ar entre 8h e 12h30, apresentava animações como X-Men (1992) e esquetes estrelados por Priscila, Gilmar e companhia. Ainda, novelinhas como A Princesa Pirata, desenvolvida pela cartunista e chargista Laerte Coutinho – que dividiu com Giba Assis Brasil o roteiro do filme Super-Colosso: a Gincana da TV Colosso (1995).
Na sequência, o Globo Esporte, ancorado por nomes como Fernando Vanucci, Léo Batista, Cleber Machado e Mylena Ciribelli; os dois últimos hoje contratados do SBT e da Record, respectivamente. Os jornais locais, com apenas 25 minutos, eram transmitidos às 12h50. O Hoje contava com a mesma duração; na bancada, Cristina Ranzolin e William Bonner.
Às 13h40, o Vídeo Show focalizava as produções televisivas e o cenário artístico nacional e internacional. Pautas sobre os bastidores das novelas e demais atrações da emissora dividiam espaço com a agenda cultural e o dia-a-dia das celebridades. Nicette Bruno e Paulo Goulart celebraram os 40 anos de casados na edição de 10 de novembro de 94; Celly Campello protagonizou o quadro Por Onde Anda? na mesma data.
Miguel Falabella respondia pela apresentação do vespertino. Na reportagem, Cissa Guimarães, Renata Ceribelli e Virgínia Novick. Esta última, oficializada após cobrir as férias de Cissa, em janeiro de 95.
Vale a Pena Ver de Novo
Enquanto Pátria Minha esteve no ar, a tradicional sessão de reprises da Globo, então às 14h15, contemplou dois títulos de muito sucesso às oito. Rainha da Sucata (1990), com as desventuras de Maria do Carmo (Regina Duarte), nova rica que “comprava” o namorado de juventude e levava de brinde a madrasta dele, Laurinha Figueroa (Glória Menezes), saiu do ar em 16 de setembro de 94.
Na segunda-feira seguinte (19), Tieta (1989) voltou a dar o ar da graça. O enredo liderado pela “cabrita” defendida por Betty Faria passou ileso, mas a abertura, com a nudez de Isadora Ribeiro, a Cilene de ‘Pátria’, sofreu censura. O canal escondeu Isadora com recursos de edição, escurecendo a imagem e exibindo os créditos como nos encerramentos, subindo a tela.
Rainha da Sucata e Tieta renderam ótimos índices de audiência para o ‘Vale a Pena’.
Ô, da poltrona!
A Sessão da Tarde apostava em filmes de todos os gêneros. Dramas como A Difícil Arte de Amar (1986) dividiam espaço com comédias – Como Eliminar Seu Chefe (1980), Corra Que a Polícia Vem Aí (1988) e Top Gang: Ases Muito Loucos (1991). Entre os clássicos do período, destaque para Tudo por uma Esmeralda (1984), Procura-se Susan Desesperadamente (1985), Conta Comigo (1986), Te Pego Lá Fora (1987), Cocktail (1988) e Minha Mãe é Uma Sereia (1990).
Em janeiro, a vesperal dava lugar ao Festival de Férias, que privilegiava desenhos como Em Busca do Vale Encantado (1988) e longas-metragens dos Trapalhões.
Aliás, os melhores momentos do grupo eram reapresentados às 17h, entre a Sessão da Tarde e a Escolinha do Professor Raimundo (17h30). A nostalgia suscitada pelo compilado de quadros exibidos durante os 16 anos do dominical virou saudade quando Mussum partiu, em 29 de julho de 94, vítima de complicações decorrentes de um transplante de coração.
Na virada para 95, o repeteco foi substituído pela Sessão Aventura, com as séries Cobra, Models, M.A.T.I.S – O Vingador, Operação Acapulco e Thunder – Missão no Mar. Tanto a ‘Sessão’ quanto a ‘Escolinha’ foram extintas em 3 de março; na segunda-feira seguinte (6), o Vale a Pena Ver de Novo foi estendido até 16h e a Sessão da Tarde passou a entregar para a novela das seis.
Irmãos, coragem!
Folhetim de Walther Negrão, Tropicaliente foi transmitida às 18h até a última sexta-feira de 94 (30). As belíssimas paisagens do Ceará impulsionaram o turismo do estado, mas não comoveram o público. O pescador Ramiro (Herson Capri) e da empresária Letícia (Silvia Pfeifer), após juras de amor eterno, chegaram ao último capítulo separados: ele se entendeu com a esposa Serena (Regina Maria Dourado); ela cedeu às investidas de François (Victor Fasano).
O remake de Irmãos Coragem foi lançado na primeira segunda de 95, abrindo as comemorações dos 30 anos da Globo. Um desajuste entre o texto e o estilo do diretor Luiz Fernando Carvalho afetou a repercussão do projeto, liderado por Marcos Palmeira, Ilya São Paulo e Marcos Winter – os irmãos João, Jerônimo e Duda Coragem. Os números só reagiram quando Reynaldo Boury assumiu a direção geral e deu ritmo à narrativa concebida por Janete Clair.
Do choro ao riso
As tramas das sete eram coladas nas das seis. Quando Pátria Minha estreou, A Viagem voava alto! A releitura de Ivani Ribeiro conquistou o melhor índice de audiência do horário na década de 90. O amor de Dinah (Christiane Torloni) e Otávio (Antonio Fagundes) e o ódio de Alexandre (Guilherme Fontes), mais fortes do que a vida e a morte, levaram o drama e a doutrina espírita para a faixa sempre associado à comédia.
Quatro por Quatro resgatou o humor em outubro de 94. O texto de Carlos Lombardi também possuía contornos melodramáticos, como a relação de Bruno (Humberto Martins) com a filha que abandonou quando bebê, Ângela (Tatyane Fontinhas Goulart). A vingança de Auxiliadora (Elizabeth Savala), Tati (Cristiana Oliveira), Abigail (Betty Lago) e Babalu (Letícia Spiller), no entanto, dominou a cena, bem como o caso da última com Raí (Marcello Novaes).
Os noticiários locais entravam no ar às 19h45. O Jornal Nacional, às 20h, contava com Cid Moreira e Sérgio Chapelin.
A campanha para Presidência da República, no ar às 7h e às 20h30, tomou espaço da TV Colosso e empurrou Pátria Minha para 21h30 entre 2 de agosto e 30 de setembro. Estados com disputas em segundo turno para governador ganharam um tempo extra de horário eleitoral, de 24 de outubro a 12 de novembro.
Nacionais e importados
A primeira linha de shows, às 21h30, contava com a Tela Quente às segundas. O inédito Uma Linda Mulher (1990), estrelado por Julia Roberts e Richard Gere, foi exibido logo após a estreia da novela de Gilberto Braga. Em 14 de novembro, outro filme de peso: Meu Primeiro Amor (1991), com Macaulay Culkin. Nos primeiros meses de 95, a sessão reapresentou longas como Ghost – Do Outro Lado da Vida (1990), Esqueceram de Mim (1990) e Um Tira no Jardim de Infância (1990), além do clássico … E o Vento Levou (1939).
A Terça Nobre contava com edições mensais do Casseta & Planeta, Urgente!, do Som Brasil e da série Brasil Especial. O ‘Casseta’ contava com programas temáticos; no rastro do sucesso de A Viagem, em um episódio sobre a vida após a morte, a trupe colocou Gustavo (Kadu Moliterno), de Pátria Minha, à espera de uma vaga no céu ou no inferno, ambos totalmente ocupados pelo elenco do folhetim das sete. A trama das oito, aliás, foi rebatizada pelos comediantes: Pátria Maminha.
O Som Brasil promovia shows em diferentes capitais; alguns deles, dedicados apenas a um artista, como a homenagem a Luiz Gonzaga e a exaltação de Leandro & Leonardo. Brasil Especial, por sua vez, contava com adaptações de clássicos da literatura, dos antigos aos modernos. Destaque para o episódio piloto de A Comédia da Vida Privada (23/08), A Desinibida do Grajaú (13/09) e Feliz Aniversário (25/10) – protagonizado por Dercy Gonçalves.
As Aventuras do Superman ocupava as quartas. Como a Globo não dedicava faixas específicas aos eventos esportivos, a série foi suspensa várias vezes para a transmissão de jogos dos campeonatos estaduais, do Brasileirão e da Libertadores da América. O mesmo ocorria com a Sessão da Tarde, a Sessão de Sábado e a Temperatura Máxima, aos domingos.
O Você Decide, às quintas, trazia Raul Cortez na apresentação e debates polêmicos, como o “teste do sofá” de Tudo Pela Arte (21/07), quando os espectadores indicaram que a protagonista (Íris Bustamante) tinha de ir para a cama com um empresário (Henri Pagnoncelli) em troca de patrocínio para a sua peça de teatro – o que rendeu protestos do Sindicato dos Atores de São Paulo. E a virgindade, também discutida através de Alice (Cláudia Abreu), de ‘Pátria’, em O Despertar da Primavera (01/09); o público “autorizou” a transa de um par de 16 anos (Patrícia de Sabrit e Pedro Brício) antes do casamento.
O Globo Repórter, nas noites de sexta, era comandado por Celso Freitas. Os temas amenos dividiam o jornalístico com coberturas especiais, como a de Pedro Bial para a guerra da Bósnia.
Já a segunda linha de shows, após os filmes do Festival de Inverno, passou a apostar em minisséries internacionais. Entre novembro e dezembro, a minissérie Incidente em Antares ocupou o horário. O enredo, baseado na obra de Érico Veríssimo, focalizava sete mortos que, diante de uma greve geral, voltavam à vida para reivindicar seus enterros. Fernanda Montenegro, Elias Gleizer, Diogo Vilela, Paulo Betti, Marília Pêra, Gianfrancesco Guarnieri e Ruy Rezende lideravam o elenco.
Por volta de 0h, o Jornal da Globo com Lillian Witte Fibe, seguido por Concertos Internacionais (apenas às segundas) e sessões de filmes. De segunda a quinta, Sessão Comédia, Campeões de Bilheteria, Classe A e Festival de Sucessos.
A rede permanecia no ar durante as madrugadas apenas às sextas e sábados ou em vésperas de feriados. Nas sextas, logo depois da série Amazing Stories – substituída por Justiceiros em janeiro de 95 –, o Corujão, documentários do National Geographic, desenhos e episódios avulsos de produções como Primo Cruzado, Fred Barney Show, Contra-Ataque e Alf, o E.Teimoso. Ainda, transmissões eventuais, como Boxe Internacional, Free Jazz e Hollywood Rock.
Sábado, sábado, sábado!
Os sábados compreendiam as reapresentações do Telecurso (5h35) e os educativos produzidos pela Fundação Roberto Marinho, como Educação para o Trânsito, com dramatizações de Vivianne Pasmanter e Guilherme Leme, e Sexo e Sexualidade, com Drica Moraes. Também o Globo Comunidade (7h30) e a série infantil Eureka (8h30) – substituída pelos melhores momentos da TV Colosso em 95.
O Xuxa Park marcou a volta da rainha dos baixinhos ao gênero infantil, após o término do Xou da Xuxa (1986) e uma incursão aos domingos. O programa, contudo, flertava com os adolescentes, tal qual o álbum Sexto Sentido, também lançado em 94. Quadros como o Canta Brasil, com artistas e cantores vítimas de “pegadinhas” da produção, e Malhação marcaram essa primeira temporada do ‘Park’.
Logo depois, a série Tudo em Cima, o Globo Esporte, os jornais locais e o Hoje.
Curto-circuito
As tardes de sábado passaram por uma mudança em agosto de 94, quando a emissora deslocou o TV Zona com Luiz Thunderbird para os domingos. O VJ ocupava a faixa entre o Esporte Espetacular (13h40) e a Sessão de Sábado (16h), que privilegiava filmes de ação e aventura.
A linguagem de Thunderbird, vinculada ao trabalho dele na MTV, e o formato engessado imposto pela Globo implicaram no fracasso do TV Zona. O programa lançado em julho, na mesma semana de Pátria Minha, o programa saiu do após seis edições.
Com o cancelamento, o Vídeo Show entrou às 13h40, empurrando o Esporte Espetacular para 14h15.
No horário nobre, a aula noturna da Escolinha do Professor Raimundo, o Supercine, a Sessão de Gala, a série Agente 86 e o Corujão.
Série histórica
Aos domingos, a emissora contava com Santa Missa em Seu Lar (6h), Pequenas Empresas, Grandes Negócios (8h30) e Globo Rural (9h). Outros dois destaques da década de 1990, Globo Ciência e Globo Ecologia – com apresentação de Cássia Kis e, posteriormente, Marcos Frota – eram exibidos às 7h e 7h30.
Após o Festival de Desenhos (10h), séries com foco nos adolescentes: SOS Malibu, Seaquest, Barrados no Baile e Viper. ‘Barrados’, um sucesso da época, foi substituída por um similar, Melrose, antes da Globo repaginar toda a faixa, privilegiando o público infantil, com Harry – Um Hóspede do barulho, Os Simpsons, Vida de Cachorro e Família Dinossauros.
A Temperatura Máxima apostava em comédias. Curtindo a Vida Adoidado (1986), Elvira – A Rainha das Trevas (1988), Sem Licença para Dirigir (1988) e Um Peixe Chamado Wanda (1988) passaram pela sessão que antecedia do Domingão do Faustão, quase sempre dividido em duas partes por conta dos eventos esportivos.
Reclames do plim-plim
Fausto Silva contava com inúmeros quadros, quase sempre protagonizados por nomes em evidência durante a semana. Eva Wilma e Kadu Moliterno marcaram presença na semana em que Tereza, personagem dela em Pátria Minha, chorava a morte do filho Gustavo, papel dele. Lilia Cabral revisitou a carreira no palco do Domingão após a virada do ano, quando Simone passou a cumprir as funções de Lídia, vilã de Vera Fischer – retirada do folhetim por conta dos problemas pessoais, assim como o então marido Felipe Camargo (Inácio).
O Fantástico, no ar às 20h, reunia Celso Freitas, Fátima Bernardes e Sandra Annenberg. No fim de noite, após a série Nova York Contra o Crime (22h), o Placar Eletrônico (23h), com a cobertura do esporte no fim de semana. Por fim, o Domingo Maior (23h30).
Fim de ano
Pátria Minha atravessou o ano com a programação especial de dezembro e as comemorações pelos 30 anos da rede de televisão.
Roberto Carlos cantou ao lado de Cássia Eller e Skank no Mineirinho, em Belo Horizonte. Xuxa encarnou Gracinha Curiosa, personagem do Xuxa Park, para o programa Crer Pra Ver. Espetáculos internacionais como Frank Sinatra – Duets e Três Tenores in Concert. A véspera de Natal contou com Dick Tracy (1990) em Supercine e uma corrida natalina protagonizada pelos cães da TV Colosso.
No dia 25, A Malandrinha (1991) em Temperatura Máxima e Hook – A Volta do Capitão Gancho (1992) em Cinema Especial, após o Fantástico. Na semana de Ano Novo, Som Brasil, gravado na Praça Castro Alves, em Salvador – sobre a nova música baiana –, o piloto do Brasil Legal com Regina Casé e o especial O Compadre de Ogum, baseado na obra de Jorge Amado.
O Réveillon do Faustão foi ao ar no sábado, 31. O thriller Instinto Selvagem (1992), célebre graças à cruzada de pernas de Sharon Stone, ocupou o Cinema Especial de 1° de janeiro.
A festa é sua, a festa é nossa
Entre janeiro e março, enquanto ‘Pátria’ ainda estava no ar, cinco minisséries foram reapresentadas às 22h30: O Tempo e o Vento (1985), As Noivas de Copacabana (1992), Agosto (1993), Boca do Lixo (1990) e Anos Rebeldes (1992) – a última, também de Gilberto Braga, de volta justamente na última semana da trama das oito.
Nas noites de quinta, ocupando a vaga do Você Decide, reprises do Caso Especial, como Meu Primeiro Baile (1972), primeira obra inteiramente gravada a cores na televisão brasileira, e Jorge, um Brasileiro (1978), ponto de partida da série Carga Pesada (1979).
As novidades ficaram restritas aos domingos. Além do Festival O Gordo e o Magro (11h30), o Xuxa Hits (13h40, depois transformado em quadro do ‘Park’), a série Plantão Médico (22h) e o Festival Charles Chaplin (23h).
O Globeleza 95, nos últimos dias de fevereiro, contou com apresentação de Fátima Bernardes e Fernando Vanucci.
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