Clássico do SBT, Pérola Negra completa 25 anos neste 9 de novembro de 2023. A saga de Pérola (Patrícia de Sabrit), garota que descobre a própria história ao assumir a identidade da amiga Eva (Vanusa Spindler), arrebatou uma legião de fãs. O site resgata os bastidores do projeto.
Contenção de despesas
Em maio de 1996, o SBT lançou três novelas. Duas delas, coproduções: Colégio Brasil, com a brasileira JPO, e Antônio Alves, Taxista, da argentina Ronda Studios. Releitura de Meus Filhos, Minha Vida (1984), Razão de Viver ficou por conta da própria emissora – a primeira trama contemporânea da casa desde a retomada do departamento de dramaturgia, com Éramos Seis (1994).
‘Colégio’, apesar dos bons índices de audiência, não teve substituta. O mesmo aconteceu com ‘Antônio Alves’, fracasso dentro e fora das telas. O canal de Silvio Santos então concentrou esforços na substituta de ‘Razão’, A Pantera, história inédita de Vicente Sesso ambientada na década de 1940. Marília Pêra foi contratada a peso de ouro para encabeçar o elenco.
Devido ao orçamento acima do previsto – inflado pelos convites a nomes como Fernanda Montenegro, Paulo Autran e Tônia Carrero –, A Pantera acabou cancelada. O SBT entregou a faixa de Razão de Viver para a JPO, que realizou Dona Anja, e foi cuidar do remake de Os Ossos do Barão (Globo, 1973), lançado em abril de 1997. Para a sequência, a rede optou pela versão tupiniquim do folhetim argentino Perla Negra (1994).
Recusa de veterana e aposta em estreantes
O original de Enrique Torres, adaptado por Henrique Zambelli sob a supervisão de Crayton Sarzy, entrou em gravações em julho de 1997. Sem Marília Pêra, que, embora contratada, alegou ter assinado para atuar na novela de Vicente Sesso.
Projeto de baixo custo, Pérola Negra apostou em rostos praticamente desconhecidos. A modelo Alessandra Berriel realizou testes para a produção, assim como Gaetano Lopes, então namorado da cantora Elba Ramalho, e Valéria Zoppello, viúva de Dinho, vocalista dos Mamonas Assassinas.
O mesmo se deu com Rafael Vannucci, filho da cantora Vanusa e do diretor de TV Augusto Cesar Vannucci, famoso após a participação na segunda temporada da Casa dos Artistas (2002) – que também projetou Cynthia Benini, outro dos nomes avaliados.
Entre os atores, Lyliah Virna, recém-saída de Dona Anja, e Alexandre Paternost, protagonista de O Quatrilho (1995), filme indicado ao Oscar.
Alexandre era namorado de Vanusa Spindler, que acabou escalada para Eva. Aliás, Cibele Larrama e Manitou Felipe, responsáveis pelos vilões Malvina e Augusto, eram casados na “vida real”.
Promoções
A trama deu chance a profissionais relegados a papéis menores, como Cibele, coadjuvante em Mulheres de Areia (1993) e A Viagem (1994), da Globo. Também promoveu os retornos de Maximira Figueiredo, a Rosália, longe da televisão desde Chapadão do Bugre (Band, 1988), e Rildo Gonçalves, o Carlos, cujo último trabalho havia sido Como Salvar meu Casamento (Tupi, 1979).
Dalton Vigh foi escalado para o protagonista Tomás por conta de seu bom desempenho em Os Ossos do Barão, emendando um projeto no outro.
Já Patrícia de Sabrit, a heroína Pérola, declinou de um convite do diretor Flávio Colatrello Jr para Malhação enquanto assinava contrato com a rede da Anhanguera.
“Ele me ofereceu um papel e o que eu podia fazer? Dei uma risada e recusei”, contou ao Jornal do Brasil (14/07/1997).
Entre os estreantes, destaque para Renato Modesto (Júnior), hoje roteirista, e Maria Fernanda Cândido (Manuela, participação), cuja única experiência na TV, até então, era a de modelo na abertura de A Indomada (1997).
Escolha das “colegas de trabalho”
A exibição de Pérola Negra, prevista para o último quadrimestre de 1997, foi protelada até novembro de 1998.
Os Ossos do Barão registrou a pior média do departamento de dramaturgia desde a retomada: 5,8 pontos. Com isso, Silvio Santos optou pelas reapresentações das mexicanas Maria Mercedes (1992) e Maria do Bairro (1995), transmitidas há poucos meses.
O núcleo voltou à ativa com Fascinação, no primeiro semestre de 1998. O “patrão” pretendia surfar no sucesso de Walcyr Carrasco, que, embora contratado da casa, escreveu “na clandestinidade” a bem-sucedida Xica da Silva para a Manchete (1996).
A emissora contava com três opções para a vaga de Fascinação: além de Segredo, história inédita de Carrasco, as engavetadas Pérola Negra e O Direito de Nascer, esta produzida pela JPO. Silvio exibiu os primeiros capítulos de ‘Pérola’ e ‘Direito’ para as colegas de auditório, durante as gravações de seu programa. A resposta da plateia determinou a exibição da obra estrelada por Patrícia e Dalton.
Quando a novela estreou, a atriz Angela Dippe (Ivone) já batia ponto em Estrela de Fogo (1998), da concorrente Record.
Por pouco, aliás, Patrícia de Sabrit não foi vista antes de Pérola Negra em Fascinação. Ela chegou a ser cogitada para Clara, a mocinha entregue a Regiane Alves.
Sucesso das tardes
Embalada pela boa repercussão da primeira versão do SBT para Chiquititas, lançada em 1997, e com uma história de fácil compreensão – além do bom desempenho do elenco –, ‘Pérola’ devolveu os dois dígitos de audiência aos títulos nacionais. Foram 13,8 pontos de média geral, a mais alta desde os 14,7 de Éramos Seis.
Em 2004, a novela foi reprisada no início das tardes, incomodando o Vale a Pena Ver de Novo, da Globo, prejudicado pelos repetecos de Terra Nostra (1999) e Deus nos Acuda (1992).
A segunda reapresentação, em 2010, contou com mais capítulos do que a exibição original: 205 x 197. A última passagem do enredo pela telinha se deu em 2015.
Pérola Negra foi praticamente toda gravada em estúdio. O folhetim contou com cenas em Tel Aviv e Jerusalém, numa viagem de Pérola e Tomás.
A química do casal formado por Patrícia de Sabrit e Dalton Vigh levou a Record a repetir o par em Vidas Cruzadas (2000).
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