O Carnaval chegou e o país inteiro está vivendo a folia nas ruas e avenidas. Neste 2024, aliás, o Sambódromo da Marquês de Sapucaí, Rio de Janeiro, completa 40 anos de existência. Essa história, que revolucionou os desfiles de escola de samba, contou com uma briga entre duas emissoras: Globo e Manchete.
Antes da Marquês de Sapucaí, os desfiles eram realizados na Avenida Getúlio Vargas, no Centro da cidade. A Globo sempre exibiu a festa das escolas de samba, que ocorriam nos domingos.
Tudo mudou quando Leonel Brizola tomou posse do governo do Rio. Ele decidiu implantar o Sambódromo e convocou Oscar Niemeyer para desenhar o projeto. Dessa forma, os direitos de transmissão dos desfiles passaram para as mãos do governo estadual.
O tiro saiu pela culatra
Brizola nunca se deu bem com a Globo. As duas partes não entraram em um entendimento para a exibição da festa.
O então vice-presidente de operações da emissora, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, teve uma ideia: a Manchete compraria os direitos de transmissão e repassaria para a Globo. Adolpho Bloch, dono da concorrente, topou o acordo.
Porém, após a assinatura com o governo do estado, ninguém da Manchete atendeu os telefonemas de Boni – a Globo foi passada para trás e, pela primeira vez, ficou de fora do carnaval carioca.
A raiva tomou conta de Boni e de Roberto Marinho. Os dois então criaram uma programação alternativa para combater as “84 horas” de cobertura da concorrente.
Uma folia que não deu certo
A Globo convocou Roberto Carlos, Chacrinha, Os Trapalhões, Elba Ramalho e uma seleção de filmes inéditos como Bonnie e Clyde – Uma Rajada de Balas (1967), Rede de Intrigas (1976) e Os Doze Condenados (1967).
Mesmo com essa artilharia, a Manchete deu um banho na rival, liderando a audiência no Rio de Janeiro e derrotando a novela das oito Champagne (1983) na segunda-feira – pela primeira vez o desfile foi dividido em dois dias.
Em São Paulo, a Globo seguiu líder no Ibope e a Manchete alcançou o segundo lugar, impedindo um avanço maior da concorrente. Para a emissora de Adolpho Bloch, que tinha apenas nove meses de vida, a exibição do primeiro Carnaval no Sambódromo da Marquês de Sapucaí foi como um título de Copa do Mundo.
E tudo voltou ao normal…
Em 1985, as duas emissoras entraram em um entendimento e passaram a transmitir juntas os desfiles da Sapucaí. A Band entrou no esquema e fez parte do rateio de pagamento dos direitos para a Riotur, do governo Brizola. Quem assistia os desfiles, se divertia com a “guerra do neon” – os logos da Globo e Manchete disputavam espaço na avenida.
Em 1993, por conta da forte crise que a Manchete enfrentava com a transferência da rede para o Grupo IBF, o Carnaval do Rio ficou apenas com a Globo. A saída do canal do Grupo Bloch foi ir para a Bahia mostrar os desfiles dos trios elétricos.
Com as contas em dia, a Manchete voltou à folia carioca em 1994. A emissora transmitiu os desfiles até 1998. No ano seguinte, a estação respirava por aparelhos e abandonou o Carnaval. Ela saiu do ar em maio de 1999, dando lugar para a RedeTV!.
Desde então, a Globo exibe sozinha os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo, sem risco de levar uma rasteira da concorrência, que aposta no carnaval nordestino.
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