O SBT pretende recobrar a audiência e o prestígio em 2024. Daniela Beyruti, filha número 3 de Silvio Santos e atual vice-presidente do canal, quer reformular toda a grade de programação. A executiva avalia formatos e acerta contratos, como os de Michelle Barros e Regina Volpato. Até o momento, porém, nada foi comentado ou mesmo suposto a respeito do departamento de dramaturgia.
As novelas infanto-juvenis, ou “para a família”, serviam de base para o horário nobre. Nos últimos tempos, porém, os folhetins liderados por Iris Abravanel, esposa do “patrão”, espantaram o público. A Infância de Romeu e Julieta acumula 4,6 pontos de média parcial, a pior desde a implantação da faixa, em 2012. A antecessora Poliana Moça (2022), antes detentora do índice mais baixo, fechou com 6,2.
É claro que a queda nos números dos folhetins do SBT está associada à redução do consumo de TV aberta, acentuada após a pandemia de Covid-19. O setor, contudo, já enfrenta problemas há tempos. O gênero utilizado à exaustão, a longa duração das produções e a insistência em uma única equipe de roteiristas implicaram no insucesso do título atual – o primeiro em parceria com o Prime Video, da Amazon.
Números não mentem
A emissora explora o filão infanto-juvenil desde o remake de Carrossel, lançado há quase 12 anos. O original de Abel Santa Cruz, conhecido dos brasileiros graças à versão produzida pela Televisa em 1989, embalou o horário nobre e assustou a concorrente Record, então mergulhada na maior crise de sua história recente com as novelas – a dos fracassos de Máscaras e Rebelde, em sua segunda e última temporada.
Nos anos seguintes, o SBT adaptou Chiquititas (2013), Cúmplices de um Resgate (2015) e Carinha de Anjo (2016). As Aventuras de Poliana, primeiro texto totalmente concebido por Iris Abravanel e equipe, expôs o desagravo do público com a longa duração dos folhetins.
O recorde semanal da obra se deu na 4ª semana de exibição (4 a 8 de junho de 2018): 16,1 pontos. Entre 3 e 7 de junho do ano seguinte, ‘Aventuras de Poliana’ registrou 11,3. De 1 a 5 de junho de 2020, “já” na reta final, a trama garantiu apenas 8,3.
Insistência
Diretor artístico dispensado recentemente, Fernando Pelegio não associava a fuga de audiência aos muitos e muitos capítulos das produções do SBT. Na coletiva de imprensa de ‘Romeu e Julieta’, quando questionado pelo repórter Arthur Pazin, da revista Caras, sobre o fato, Pelegio alegou que, no exterior, novelas são mantidas no vídeo por 40 anos – ignorando as muitas alterações pelas quais tais títulos passam ao longo do tempo para manter o espectador ligado.
Posições como a do ex-contratado precisam ser revistas. O público não resiste a dois anos de uma mesma história. Especialmente quando o enredo padece com a falta de atrativos ou por semelhanças com os anteriores, algo comum nas três últimas produções da faixa, todas lideradas por Iris. Por mais competente que o time de roteiristas seja, é humanamente impossível não sucumbir diante de uma jornada de trabalho tão exaustiva, sempre ligado a um mesmo gênero.
Novos tempos
A reforma a cargo de Daniela Beyruti precisa englobar também o departamento de dramaturgia, vital para qualquer rede de TV no Brasil. A pauta vai da próxima empreitada no setor e consequentes investimentos ao horário que abriga reprises recorrentes das poucas produções do SBT nos últimos tempos.
Cabe lembrar que a estação já explorou, nos anos 1990, a oferta de profissionais com passagens pela Globo e as coproduções. No momento em que há tantos nomes disponíveis no mercado, o streaming oferece possibilidades de parceria como a estabelecida com a Amazon e a grade dispõe de espaço, nada mais justo do que o setor estude possibilidades para voltar a brilhar.
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