Sucesso do horário das seis, Livre Para Voar voltou para ficar através do Globoplay. A novela de Walther Negrão, protagonizada por Tony Ramos e Carla Camurati, estreou no streaming nesta segunda-feira (20). O site Duh Secco preparou um especial com 10 curiosidades sobre o folhetim. Uma singela homenagem aos fãs que batalharam (e muito) por esse resgate. Confira!
Elenco provisório
Nomes como Beth Goulart, Cacilda Lanuza, Flávio Guarnieri, Maurício Mattar e Teresinha Sodré integraram o elenco provisório de Livre Para Voar.
Tony Ramos, intérprete do protagonista Pardal – abreviação de Paulo Alberto Ramos de Almeida Lima – declinou do convite para Corpo a Corpo, trama contemporânea de Gilberto Braga às oito, para atender a produção das seis. Foi a primeira empreitada do ator na faixa.
Entre os lançamentos, Alexandre Frota (Cecílio), Denise Milfont (Janda), Dora Pellegrino (Helena), Guida Viana (Divina), Rodolfo Bottino (Jajá) e Tiago Santiago (Quim); este último fez carreira como autor na Globo, na Record e no SBT.
Outra estreia, a de Cássia Kis, se deu aos “45 do segundo tempo”. A atriz recrutada através de testes assumiu Verona, líder de uma república, após a recusa do primeiro nome ventilado para o papel, Eliane Giardini. A Agatha de Terra e Paixão só acertou com a Globo em 1990, para a minissérie Desejo.
“Lembro do meu entusiasmo, da minha alegria, fiquei pulando de felicidade. Agarrei aquela personagem com unhas e dentes, uma entrega absoluta, um brilho no olhar”, contou Cássia ao site Memória Globo.
Oswaldo Loureiro também deixou ‘Livre’ antes do início das gravações. Jorge Dória o substituiu como J.J., pai da protagonista Bebel (Carla Camurati).
Fora da festa
Estrela do infantil Bambalalão (1977), ao lado de Gigi Anhelli e de inúmeros fantoches, Silvana Teixeira foi indicada por Walther Negrão para Livre Para Voar.
Aprovada pelo diretor geral Wolf Maya, ela abriu mão do contrato diante do pedido da caracterização para cortar os cabelos. Débora Fuchs assumiu a personagem, Suzana, a moradora mais antipática da república.
Silvana, por sua vez, seguiu na Cultura. Em 1990, ela fechou com a Globo para ancorar a previsão do tempo do São Paulo Já, noticiário local conduzido por Carlos Nascimento.
Talento nato
De passado misterioso – tal qual Ciro (Cláudio Marzo), protagonista do título anterior de Negrão, Pão-Pão, Beijo-Beijo (1983) –, Pardal vivia em um vagão de trem na companhia do órfão Gibi. Fernando Almeida, então com 10 anos, respondeu pelo garoto.
A princípio, a equipe cogitou um ator branco. Alan Alencar, que viveu Nonô Corrêa (Ary Fontoura) de Amor com Amor se Paga (1984) quando pequeno, foi um dos nomes testados para o papel.
O talento de Fernando, contudo, surpreendeu os envolvidos nos testes. Nos anos seguintes, ele atuou em O Outro (1987), Vale Tudo (1988), Lua Cheia de Amor (1990) e Pedra Sobre Pedra (1992), entre outros êxitos.
Almeida foi assassinado em abril de 2004, aos 29 anos, após um desentendimento na saída de um baile funk. O artista deixou um filho, Samuel, do relacionamento com a youtuber Antônia Fontenelle.
Veterano na Globo
Livre Para Voar foi o primeiro trabalho de Elias Gleizer na Globo. O veterano passou décadas na Tupi e, antes de ser convidado para a novela das seis, atuou na Band e no SBT.
“Walther, meu amigo do início de Tupi, falou assim: ‘Elias, estou escrevendo uma novela que é a história do meu pai. Ele era maquinista da estrada de ferro. Eu queria que você fizesse esse papel’. Aceitei e comecei a gravar. Fiz uma novela maravilhosa, foi muito bem”, rememorou em entrevista ao Memória Globo.
Elias viveu Pedrão, responsável pelos cuidados com o trem que abrigava Pardal e Gibi, pai de Julinha (Thaís de Campos), Jajá e Quim.
Ambientação
Livre Para Voar foi ambientada em Poços de Caldas, Minas Gerais. As filmagens eram realizadas por lá mensalmente.
Membros da sociedade local foram convocados para sequências marcantes como a do casamento de Pardal e Bebel, com cerimônia na capela do Condomínio Quisisana e festa no Palace Hotel – que, posteriormente, serviu de cenário para Alto Astral (2014) e Além da Ilusão (2022).
A trama ainda contou com cenas num haras em Santa Cruz das Palmeiras e numa estrada de ferro entre Barra do Piraí e Três Rios, Rio de Janeiro. Também na Galeria Ipanema, onde Pardal expôs suas esculturas de sucata – desenvolvidas pelo artista plástico Jorge de Salles. Por fim, a fábrica de cristais Hering, em Blumenau, Santa Catarina.
Luz do sol
Na sinopse, Walther Negrão mencionou “uma história galante, para ser produzida, narrada e dirigida em tom pastel. Com a mesma delicadeza com que Bebel tratará de seus biscuits, suas faianças… Um melodrama sem medo. Sem falso pudor”.
Para chegar ao tom pastel solicitado pelo novelista, Wolf Maya optou por gravações às 5h, aproveitando a luz branda dos primeiros raios de sol.
“Buscamos atores novos para revitalizar o mercado e, entre os experientes, escolhemos artistas hiper sensíveis. Porque a novela será toda plácida, tranquila, como num filme de (Franco) Zeffirelli”, salientou Wolf ao jornal O Globo.
“O tratamento visual é muito bem cuidado, bem delicado como imaginamos na hora de escrever. A novela é escancaradamente romântica, a velha história do plebeu e da rainha”, complementou Alcides Nogueira, colaborador de Negrão, no Jornal do Brasil.
Com Maya, na direção, Fred Confalonieri, também parceiro em Champagne (1983). Ricardo Waddington auxiliou a dupla nas primeiras externas.
Referências
O autor, como em trabalhos anteriores, se baseou em pesquisas para definir os perfis de alguns personagens. Um estudo intitulado Retrato do Jovem Brasileiro, da McCann-Erickson, que apontava 95% desta parcela da população como conservadores e românticos e apenas 5% como contestadores, auxiliou no desenvolvimento do núcleo liderado por jovens adultos como Edu (Cassio Gabus Mendes) e Tuca (Élida L’Astorina).
Outro elemento comum à obra de Walther, a dupla de cavaleiro e escudeiro – Shazan (Paulo José) e Xerife (Flávio Migliaccio) em O Primeiro Amor (1972); Soró (Arnaud Rodrigues) e Geninho (Paulo Vignolo) em Pão-Pão, Beijo-Beijo –, foi sintetizado no personagem de Tony Ramos.
“Apesar de ter um escudeiro-menino, o órfão Gibi, Pardal tem os traços do bobo, do vagabundo e também do galã, do herói que faz a saga. É estimulante chegar aonde queria: no protagonista”.
Computador como aliado
O novíssimo computador, que Walther Negrão já havia experimentado em ‘Pão-Pão’, foi totalmente incorporado à rotina do autor. A experiência rendeu prós e contras.
“No decorrer da novela (precisamente entre os capítulos 30 e 54), por preguiça ou excesso de entusiasmo, permiti que a máquina me sugerisse partes do enredo, algumas intrigas do entrecho. Resultado: a novela quase afunda, porque a máquina só cria o óbvio e o espetáculo se sustenta de imprevisíveis”, revelou ele ao jornal O Globo.
A principal função da máquina, segundo Negrão, era a de guardar detalhes que, com o desenrolar dos capítulos, passam batidos, servindo como “memória auxiliar”.
Mudança de rota
O computador também auxiliou o novelista a alterar a base da narrativa. É que, na primeira sinopse, Bebel era a grande protagonista. O título provisório Abelha Rainha, aliás, era uma referência à trajetória dela: a herdeira que chega do exterior para assumir a fábrica de cristais do pai, se infiltra na “colmeia” e promove mudanças significativas ali.
“Mas aí escalaram o Tony Ramos e nesse caso ele seria o principal. Tive de girar todo o eixo da novela para o personagem masculino, o Pardal. Aí a máquina me ajudou muito, porque, com tantas mudanças, lá pelo 50° capítulo eu perdia de vista o perfil psicológico e social dos personagens”, rememorou em matéria para o Jornal do Brasil.
Reprise precoce
Livre Para Voar foi finalizada em abril de 1985 e voltou ao vídeo em outubro de 1986, via Vale a Pena Ver de Novo – cerca de um ano e seis meses entre uma exibição e outra.
Por muito tempo, a trama figurou entre as mais pedidas para reprise no Canal Viva. Não há, no momento, previsão para que ‘Livre’ ocupe um dos horários do canal.
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