Remakes, como o de Elas por Elas, exigem coragem. Além da necessidade de adequar a obra tanto à época quanto às mudanças pelas quais as novelas passaram, é preciso driblar a resistência dos fãs da primeira versão. Mexer no passado é mexer na memória afetiva. Ainda que os saudosistas não tenham recordações nítidas do original, este pertence a um momento da vida onde tudo parecia melhor; boas lembranças devem permanecer intocáveis.
Títulos que sofrem poucas alterações, como os de Benedito Ruy Barbosa, não causam tanta celeuma. Diferente da atual produção das seis da Globo… A estrutura de Cassiano Gabus Mendes está mantida, mas vários perfis incompatíveis com a atualidade foram alterados, o que implicou em um novo desenvolvimento. Os autores Alessandro Marson e Thereza Falcão, como convém em casos do tipo, não hesitaram em reformular toda a história.
Novela em movimento
O melhor de Elas por Elas, considerando os três primeiros capítulos, foi a opção de Alessandro e Thereza de mostrar os acontecimentos que, com Cassiano, eram apenas ditos ou insinuados. Gabus Mendes era mais do diálogo do que da ação; o espectador de hoje, dividido entre a TV e as redes sociais (ou outras tarefas), não dispõe da mesma atenção que o de 82.
O folhetim das seis acertou ao explicitar a relação das sete amigas no passado, através dos flashbacks – cabe destacar a produção de elenco, que escalou nomes muito parecidos com os do presente. Outro ponto positivo é o peso dado a Bruno (Luan Argollo) e, consequentemente, ao “quem matou?” que mobiliza Natália (Mariana Santos).
Os ganchos originais foram reforçados. Wanda (Sandra Bréa) descobria que era amante do marido de Márcia (Eva Wilma) ao ver a foto de Átila (Mauro Mendonça) em um porta-retrato; Taís (Késia) ficou diante de Lara (Deborah Secco) e do esposo dela, Átila (Sergio Guizé). O confronto que culminou com a morte do infiel também foi direto; em 1982, ele passava mal no banheiro enquanto Wanda desabafava no quarto.
Boa pedida
A ação também atinge Mário Fofoca (Lázaro Ramos). O detetive mantém o raciocínio atabalhoado impresso por Luis Gustavo na primeira versão, mas a confusão que protagonizou no primeiro capítulo primou pelo movimento. Os autores também entregaram dados com o convívio de Taís e Renée (Maria Clara Spinelli). Em tempos de redes sociais, era impossível que as sete amigas levassem 25 anos para se cruzarem novamente.
Elas por Elas parece promissora. A dramédia, conforme definido pela diretora artística Amora Mautner, funciona bem. As protagonistas estão entrosadas. A história de Alessandro Marson e Thereza Falcão, embora o ponto de partida seja conhecido, é totalmente nova. O texto reverencia o humor de Cassiano Gabus Mendes. Que os espectadores, incluindo os saudosistas, aproveitem do bom entretenimento.
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