SBT reprisa As Pupilas do Senhor Reitor em canal só de novelas

Confira os bastidores da trama produzida em 1994

Debora Bloch como Guida em As Pupilas do Senhor Reitor (Edson Iwassaki / SBT)

A partir desta segunda-feira (11), através de sua plataforma de streaming, o SBT reapresenta As Pupilas do Senhor Reitor. O folhetim de 1994 será exibido às 7h, 15h e 23h no canal fast +Novelas, localizado na aba Canais do aplicativo +SBT – disponível de forma gratuita em celulares e TVs conectadas.

No próximo dia 28, a trama será integrada ao catálogo, para que o usuário possa ver e rever em qualquer horário. Serão 20 capítulos disponibilizados mensalmente. O esquema é o mesmo adotado com Fascinação (1998) e as duas versões de Chiquititas (1997 – 2013), além das mexicanas Camaleões (2009) e Eternamente Apaixonados (2023).

Para celebrar o retorno, o site Duh Secco resgata curiosidades da obra, como a busca pelas protagonistas Clara e Guida até o acerto com Luciana Braga e Debora Bloch, a Odete Roitman de Vale Tudo. Também os ajustes em nome da audiência, que incluíram cenas ousadas e a criação de uma vilã.

A escolha de Silvio Santos

Topa Tudo por Dinheiro - Silvio Santos
Silvio Santos no Topa Tudo por Dinheiro, em julho de 1994 (João Batista da Silva / SBT)

As Pupilas do Senhor Reitor foi a segunda empreitada do núcleo de dramaturgia do SBT durante a fase capitaneada por Nilton Travesso. A emissora repetiu o esquema adotado com a antecessora Éramos Seis, atualizando um texto concebido para outra estação; no caso, o de Lauro César Muniz para a Record, baseado no romance homônimo do português Júlio Dinis e produzido em 1970.

A opção pelo remake de ‘Pupilas’ se deu após a avaliação de Silvio Santos sobre os títulos adquiridos pela casa. O apresentador e executivo leu as sinopses de Xeque-Mate (1976, Tupi), Gaivotas (1979, Tupi) e Ninho da Serpente (1982, Band), além de duas propostas inéditas de Geraldo Vietri – Desejo, sobre uma mulher que destruía os homens que atravessavam seu caminho, e Manhãs de Sol, a respeito de um médico transformado em guia espiritual de uma cidade do interior. Silvio também cogitou a aquisição de Como Salvar Meu Casamento (1979) – última incursão do Tupi no gênero, interrompida na reta final por conta da falência da rede.

A manutenção dos folhetins de época era uma resposta às investidas da Globo na ocasião, todas voltadas para a contemporaneidade, conforme Travesso destacou em entrevista ao jornal O Globo:

“A Globo tem autores que fazem novelas urbanas genialmente bem. Não dá para competir com eles. Resgatar o lado singelo e romântico é o melhor caminho para dar certo”.

De olho na concorrência

As Pupilas do Senhor Reitor - Debora Bloch e Luciana Braga
Debora Bloch (Guida) e Luciana Braga (Clara) em As Pupilas do Senhor Reitor (Edson Iwassaki / SBT)

A escalação de elenco, a cargo de Nilton Travesso e Fernando Rancoleta, priorizou atores e atrizes com passagens recentes pela Globo.

Das minisséries A Madona de Cedro e Memorial de Maria Moura, exibidas entre abril e maio de 94, o galã Eduardo Moscovis (Daniel) e Rosamaria Murtinho (Ressureição), em participação especial. De Sonho Meu, finalizada em maio, Elias Gleizer (José das Dornas) e Daniela Camargo (Amália); Carlos Alberto, Eri Johnson, Isabela Garcia e Priscila Camargo conversaram com o canal, mas não fecharam. Do time de Fera Ferida, concluída em julho, Juca de Oliveira (Padre Antônio / Sr. Reitor) e Cláudio Fontana (Manoel do Alpendre). De A Viagem, encerrada em outubro, Denise Del Vecchio (Joana).

Para Clara e Guida, o SBT negociou com Adriana Esteves, Cristiana Oliveira, Júlia Lemmertz e Lisandra Souto. Luciana Braga ficou com a caçula Clara, emendando o trabalho em Éramos Seis, na qual vivia Isabel, filha da protagonista Lola (Irene Ravache). Debora Bloch assumiu a irmã mais velha, Guida, voltando ao gênero do qual estava afastada desde Cambalacho (1986).

“A Globo tinha feito uma proposta para mim pouco antes do SBT, mas as condições de trabalho e o salário aqui eram melhores e eu fiquei impressionada com a competência de ‘Éramos Seis’”, contou Debora em entrevista ao Globo. Pesaram também os elogios da amiga Denise Fraga ao núcleo de dramaturgia do canal, uma temporada teatral em São Paulo e o desejo da atriz de manter a filha recém-nascida Júlia próxima da avó, residente na capital paulista.

Marcelo Serrado e Alexandre Borges declinaram do convite para Pedro, irmão de Daniel e “segundo herói” da narrativa, por compromissos com o teatro. Jandir Ferrari, o Carlos de Éramos Seis, foi cotado para o papel antes do acerto com Tuca Andrada, outro egresso de Fera Ferida.

A equipe de As Pupilas do Senhor Reitor também sondou Andrea Richa, Bia Seidl, Carla Camurati, Marcela Muniz, Marcelo Saback, Maria Luisa Mendonça, Patrícia Perrone, Paula Burlamaqui, Rubens Caribé, Samantha Dalsoglio e Cristiana Reali, atriz brasileira radicada na França.

Entre as participações, o diretor Henrique Martins, nos primeiros capítulos, acompanhado da socialite Eugênia Fleury. Maurício Jahu, jogador de vôlei, hoje comentarista esportivo, surgiu em cena como Castro Negrão, amigo de Daniel.

A jornalista Cristina Padiglione, então colunista e repórter da Folha de São Paulo, integrou o elenco fixo, na pele da lavadeira Virgília. Padi foi escalada por Nilton Travesso, impressionado com a fotogenia dela enquanto jurada do Troféu Imprensa. Em entrevista ao jornalista Fábio Costa, ela revelou que previa uma participação pequena e breve, mas Travesso a manteve no time e, quando questionado, garantiu que ela daria conta do recado.

Lá e cá

As Pupilas do Senhor Reitor - Elias Gleizer
Elias Gleizer como José das Dornas em As Pupilas do Senhor Reitor (Edson Iwassaki / SBT)

Os contratados do SBT deixaram trabalhos inéditos na Globo, o que implicou em “coincidências” no vídeo. Debora Bloch apareceu na tela da antiga emissora dias depois de assinar com Silvio Santos, estrelando o piloto da série A Comédia da Vida Privada – exibido em 23 de agosto de 94. Elias Gleizer e Paulo Goulart (Dom Arlindo) ficaram no ar nas duas estações durante o mês de dezembro com ‘Pupilas’ e a minissérie Incidente em Antares.

Elias também deu o ar da graça na reapresentação de Tieta (1989) em Vale a Pena Ver de Novo. O mesmo se deu com Joana Fomm que, já de casa nova, foi convocada para a tradicional vinheta de fim de ano da Globo.

“Quando disse que meu contrato com eles já havia terminado e que já estava no SBT, percebi que foi um choque”, relatou a atriz ao Jornal do Brasil.

Produção de primeira

As Pupilas do Senhor Reitor - Debora Bloch, Juca de Oliveira e Luciana Braga
Luciana Braga (Clara), Juca de Oliveira (Padre Antônio) e Debora Bloch (Guida) em As Pupilas do Senhor Reitor (Edson Iwassaki / SBT)

Empolgado com Éramos Seis, o departamento de dramaturgia do SBT apostou alto em As Pupilas do Senhor Reitor. Pela primeira vez, a rede investiu em gravações internacionais. Nilton Travesso passou 15 dias em Portugal, percorrendo cidades como Lisboa e Porto, além de pequenos vilarejos na região do Minho. Com ele, o cinegrafista Edson Souza, o diretor de arte Beto Leão, o diretor de cenografia João Nascimento Filho e o figurinista Paulo Lois. Os trabalhos incluíram registros fotográficos para a construção da cidade cenográfica, stock-shots (tomadas de ambientação) e cenas com Debora Bloch, Eduardo Moscovis e Daniela Camargo.

A Catedral da Sé e o Teatro Municipal de São Paulo também abrigaram sequências. Um baile gravado no Municipal reuniu mais de 170 figurantes e cerca de 15 bailarinos. Ainda, fazendas em Itu e Itapetininga – com rochedos e montanhas similares aos vistos no Minho.

Para a cidade cenográfica, a inspiração foi Sistelo, aldeia portuguesa que conservava características do século XIX. 20 casas, uma igreja e uma praça compunham o ambiente. O projeto, orçado em US$ 35 mil, foi implantado em cerca de 45 dias, graças a duas frentes de trabalho, a da nova trama e a de Éramos Seis.

‘Pupilas’ contou também com um “mini zoológico”: três gatos, quatro bois, quatro cabritos, quatro cavalos, seis porcos, 10 ovelhas, cerca de 50 aves entre galinhas e patos e 90 pombos. A família formada por dois vira-latas que se abrigaram na cidade cenográfica da antecessora e deram uma ninhada de nove filhotes foi incluída no “elenco animal”. Os vira-latas atendiam por Lola e Júlio (Othon Bastos), referência aos patriarcas da família Lemos, protagonista de ‘Éramos’.

Pompa e circunstância

Hebe
Hebe à frente de seu programa, em março de 1994 (Francisco Inácio / SBT)

A intoxicação de Irene Ravache, após o uso de um produto para embranquecer os cabelos nas cenas finais de Éramos Seis, e o consequente afastamento da atriz das gravações levou ao adiamento da reforma em parte da cidade cenográfica adaptada para As Pupilas do Senhor Reitor. O problema, aliado à demora na pré-produção, impactou o lançamento. Prevista para 14 de novembro e adiada para 21 e 28 do mesmo mês, ‘Pupilas’ só foi ao ar em 6 de dezembro, uma terça-feira.

Na segunda (5), o SBT reuniu o elenco das duas novelas no especial Noite das Estrelas, conduzido por Hebe Camargo direto do Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo. A apresentadora, aliás, foi anfitriã da festa de encerramento da primeira versão, realizada no palco de seu programa na Record em março de 1971.

Hebe participou do original como Magali do Porto, uma cantora de fado. Quando convidada a repetir o tipo, ela declinou em razão de compromissos agendados anteriormente. Betty Faria, cotada para a personagem, não chegou a um consenso com a rede sobre o cachê. Lucinha Lins, recém-saída de A Viagem, assumiu o tipo.

Pedras no caminho

As Pupilas do Senhor Reitor - Joana Fomm
Joana Fomm como Eugênia Carlota em As Pupilas do Senhor Reitor (Edson Iwassaki / SBT)

Os 300 capítulos da primeira versão foram compactados em aproximadamente 160 por Bosco Brasil e Ismael Fernandes. Ainda assim, As Pupilas do Senhor Reitor sofreu críticas por conta do ritmo lento. A audiência, similar à de Éramos Seis, em torno de 15 pontos, oscilou para baixo – reflexo também do mês de estreia, marcado por calor, horário de verão e férias escolares.

Em janeiro de 1995, Analy A. Pinto, Aziz Bajur e Zeno Wilde passaram a atuar como colaboradores. Chico de Assis assumiu a supervisão de texto.

Antes do lançamento, o SBT pretendia ter Solange Castro Neves, colaboradora de Ivani Ribeiro em A Viagem, ao lado de Bosco e Ismael. Solange optou por seguir na Globo. Os adaptadores passaram a contar com o auxílio de Leonor Corrêa, que, dias após o início dos trabalhos, acertou com a concorrente para atuar no programa do irmão Fausto Silva.

A reformulação no roteiro incluiu o reforço das principais características dos personagens e a exclusão de cenas excessivamente longas. A sensualidade de Francisquinha (Valéria Alencar), jovem que buscava remédio para seus “calores” em banhos de cachoeira, passou a ser explorada com mais frequência.

Novos personagens surgiram para movimentar a narrativa. Francisquinha, então apaixonada por Daniel, ganhou um par romântico tão fogoso quanto ela, o pintor Fernão da Ribeira. A figura, oferecida a Carlos Alberto Riccelli, Guilherme Leme e Thales Pan Chacon, acabou com Eduardo Galvão, outro remanescente de A Viagem.

Joana Fomm, cotada para a produção seguinte, foi convocada para dar vida à megera Eugênia Carlota, que buscava vingança contra os que a maltrataram quando ela, então abandonada pelo namorado, Antônio – o Sr. Reitor –, foi expulsa de Póvoa do Varzim.

Eugênia incorporou a bengala utilizada pela atriz após uma ruptura de ligamentos no pé esquerdo. Na reta final, Elizangela (Tereza) sofreu um estiramento na região do tornozelo esquerdo, passando a gravar da cintura para cima para esconder o gesso e as muletas.

Outra novela

As Pupilas do Senhor Reitor - Daniela Camargo
Daniela Camargo como Amália em As Pupilas do Senhor Reitor (Francisco Inácio / SBT)

As alterações de As Pupilas do Senhor Reitor implicaram em novos caminhos para Guida e Clara. A primeira, menos ingênua e mais combativa, passou a ser disputada por Daniel, Fernão e Padre Emílio (Olair Coan). A segunda assumiu o interesse em Pedro, rivalizando com Isabel (Lúcia Romano).

Francisquinha atraiu os olhares de Augusto (Oscar Magrini) – que acabou envolvido por Joana –, Gama (Marcos Breda), Joaquim (Fernando Neves) e Malaquias (Roney Facchini). O último firmou compromisso com a moça por imposição do pai dela, João da Esquina (Renato Borghi), mesmo estando apaixonado por Tereza, mãe de Francisquinha e esposa de João.

Padre Antônio enfrentou a amargura de Eugênia Carlota; a revolta de Padre José (Roberto Bomtempo), que o considerava “progressista” demais; e o oportunismo de Pereirinha (Rogério Márcico), autor dos roubos de pratarias da igreja.

O talento de Daniela Camargo transformou Amália. A garota volúvel que hesitava em abrir mão da vida luxuosa que levava para se unir a Daniel deixou de flertar com a vilania e se tornou uma rival à altura de Guida. Nas últimas semanas, Amália morreu de tuberculose.

Cláudio Fontana também ganhou espaço graças à empatia que imprimiu a Manoel do Alpendre, órfão que buscava pela mãe – Rosa (Miriam Mehler), que fora amante de José das Dornas, pai de Pedro e Daniel. O público também apreciou os trabalhos de Ana Lúcia Torre (Zefa) e Cláudia Mello (Brásia), as amigas beatas de Rosa; e de Luís Carlos Arutin, o Dr. João Semana, médico e mentor de Daniel.

Fim da história

Sangue do meu Sangue - Cacá Rosset, Del Rangel e Denise Fraga
Denise Fraga, Del Rangel e Cacá Rosset nos bastidores de Sangue do meu Sangue (Francisco Inácio / SBT)

Os capítulos de As Pupilas do Senhor Reitor eram exibidos às 19h45 e reapresentados às 21h30 – ou, conforme anunciavam as chamadas, após Quatro por Quatro e Pátria Minha / A Próxima Vítima, títulos veiculados pela Globo às sete e às oito, respectivamente. De acordo com o livro Biografia da Televisão Brasileira, escrito por Flávio Ricco e José Armando Vannucci, a primeira faixa garantiu 11 pontos de média geral; a segunda rendeu 9.

Os índices de audiência cresceram após as intervenções, mas não o suficiente para a aposta do departamento de dramaturgia em material inédito. No caso, a adaptação de Dom Casmurro, com elementos de Quincas Borba, obras de Machado de Assis. Jandira Martini e Marcos Caruso respondiam pelo enredo, desenvolvido em três épocas distintas. Denise Fraga era cotada para a protagonista, Capitu. O projeto foi engavetado por Silvio Santos, que voltou a repetir a tática de Éramos Seis e ‘Pupilas’, produzindo a atualização de Sangue do meu Sangue, folhetim que Vicente Sesso concebeu para a Excelsior em 1969. Jandira, Marcos e Denise integraram o elenco do remake.

As Pupilas do Senhor Reitor foi reapresentada entre maio e agosto de 2007, às 15h15, em 65 capítulos. Em dezembro do ano anterior, o SBT tentou um repeteco às 19h, suspenso após quatro capítulos por problemas de direitos relacionados à trilha sonora.

O repertório, aliás, foi lançado em LP e CD junto das músicas de Éramos Seis. No vinil, as seis canções de ‘Pupilas’ ocupavam o lado A. O CD contou com quatro temas extras.

Escrito por Duh Secco

Sou apaixonado por TV e novelas desde a infância. Passei pelo blog Agora é Que São Eles e pelos sites Canal VIVA, RD1 e TV História. As análises, informações exclusivas e matérias sobre bastidores de produções do passado e do presente se estenderam às redes sociais. Agora, me dedico a um espaço próprio, sempre empenhado em levar o melhor do audiovisual aos que me acompanham.

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