Streaming gratuito do SBT resgata Fascinação, de Walcyr Carrasco

Saiba tudo sobre os bastidores da novela de 1998

Regiane Alves (Clara) e Marcos Damigo (Carlos Eduardo) em Fascinação (Francisco Inácio / SBT)

Fascinação (1998) está de volta! O SBT disponibilizou os 142 capítulos da novela de Walcyr Carrasco em sua plataforma de streaming, o +SBT. Fascinação, protagonizada por Regiane Alves e Marcos Damigo, também integra a grade do canal fast +Novelas, com exibição de segunda a sexta-feira, 22h45.

O +SBT é gratuito. Para conferir o catálogo ou acompanhar os canais fast, basta cadastrar e-mail e senha.

No especial abaixo, o site Duh Secco destaca os bastidores de Fascinação.

Um autor à procura de trabalho

Xica da Silva - Taís Araujo e Victor Wagner
Victor Wagner (João Fernandes) e Taís Araujo (Xica) em Xica da Silva (Divulgação / Manchete)

Walcyr Carrasco estreou como roteirista em 1984, desenvolvendo episódios da série Joana. A produção independente do diretor Guga de Oliveira, estrelada por Regina Duarte, foi transmitida na Manchete e no SBT. Cinco anos depois, Carrasco escreveu e Guga dirigiu a novela Cortina de Vidro, veiculada pelo canal de Silvio Santos. Na sequência, o autor migrou para a emissora de Adolpho Bloch.

Em meados da década de 1990, Walcyr Carrasco voltou ao SBT. Foi quando a Manchete atravessou o caminho dele outra vez… Convidado por Walter Avancini para conduzir o texto de Xica da Silva (1996), Walcyr passou a atuar nas duas casas, usando um pseudônimo para assinar ‘Xica’: Adamo Angel.

“Nesse tempo todo, continuei cumprindo minha função no SBT, que é a de consultor, para avaliar textos e sinopses”, declarou ele ao jornal O Globo, durante coletiva de imprensa realizada na sede da Manchete no Rio de Janeiro, em abril de 1997.

Silvio Santos, ao tomar conhecimento da história, optou por manter Walcyr Carrasco contratado, conforme este relatou ao projeto Memória Globo:

“Ele entendeu que não havia me dado a oportunidade de ser autor e que esse era meu sonho”.

Propostas na mesa de Silvio Santos

Topa Tudo por Dinheiro - Eliana e Silvio Santos
Silvio Santos e Eliana no Topa Tudo por Dinheiro (João Batista da Silva / SBT)

O término de Xica da Silva estava próximo quando a identidade do roteirista veio à tona. Logo depois, Carrasco passou a trabalhar, a pedido de Silvio, numa sinopse para o SBT.

“Continuarei com o pseudônimo. Afinal, ele me deu muita sorte”, contou ao jornal O Estado de São Paulo em abril de 97. Adamo Angel, no entanto, ficou na Manchete.

Na época, o SBT exibia os últimos capítulos de Dona Anja (1996) e preparava o lançamento de Os Ossos do Barão.

‘Anja’, que, curiosamente, procurava emular a ousadia de ‘Xica’, era um projeto de Roberto Talma realizado através da produtora JPO, também encarregada do remake de O Direito de Nascer.

Já os trabalhos de ‘Ossos’ foram conduzidos pelo próprio canal. Nilton Travesso, então diretor do departamento de dramaturgia, deixou a casa em meio às gravações de Pérola Negra, adaptação de um texto argentino. Travesso discordava da “mexicanização” da emissora, fruto do sucesso da “trilogia das Marias”, estrelada por Thalía – Maria Mercedes (1992), Marimar (1994) e Maria do Bairro (1995) – e da redução de custos imposta por Silvio Santos para equilibrar as contas após o investimento na construção de um complexo de estúdios às margens da rodovia Anhanguera, na altura de Osasco, São Paulo.

Mesmo com O Direito de Nascer e Pérola Negra em gravações, Silvio e o consultor de dramaturgia Crayton Sarzi saíram em busca de outra história para dividir o horário nobre com Chiquititas, coproduzida com a argentina Telefe.

A princípio, a proposta de Walcyr Carrasco, batizada Alma Gêmea, foi rejeitada.

“Cerca de 80% da novela se passa num prostíbulo: não dá”, decretou Sarzi em entrevista ao Estado de São Paulo.

Outros dois projetos foram cogitados: A Pantera e O Leão de Ouro. Trama de Vicente Sesso, A Pantera havia sido engavetada em meados de 96 por conta do orçamento; Marília Pêra, contratada para a vilã Silvana, passou um ano recebendo sem trabalhar. O Leão de Ouro, folhetim desenvolvido por Duca Rachid, Marcos Lazarini e Mário Teixeira – colaboradores de Walter George Durst em Os Ossos do Barão –, acompanhava um garimpeiro que, após enriquecer, assumia o comando de uma cidadezinha.

Por fim, Walcyr saiu vitorioso. Alma Gêmea voltou à pauta, com o título alterado para Fascinação.

Novatos em ação

Fascinação - Heitor Martinez
Heitor Martinez como Alexandre em Fascinação (Francisco Inácio / SBT)

Após a definição do enredo, os diretores Antonino Seabra, Jacques Lagoa e Henrique Martins partiram para a escalação de elenco. Luigi Baricelli e Thiago Lacerda foram cotados para o galã Carlos Eduardo. Thiago, segundo O Globo, teria recusado devido ao cachê baixo. Patrícia de Sabrit, recém-saída de Pérola Negra, chegou a ser cogitada para a mocinha Clara.

A atriz Lu Grimaldi, contratada como produtora de elenco, foi quem convidou Marcos Damigo para Carlos Eduardo. Lu acompanhou o trabalho do ator no teatro e em um episódio do Você Decide. Regiane Alves, reprovada em um teste para Malhação após finalizar a Oficina de Atores da Globo, arrebatou Clara.

O vilão Alexandre foi entregue a Heitor Martinez, que, com participações na novela Cara & Coroa (1995) e no filme Tieta do Agreste (1996), era o mais experiente do trio protagonista. Para a megera Melânia, mãe de Carlos Eduardo, Glauce Graieb, longe dos folhetins desde As Três Marias (1980).

Baú quase vazio

Fascinação - Glauce Graieb
Glauce Graieb como Melânia em Fascinação (Francisco Inácio / SBT)

Assim como O Direito de Nascer e Pérola Negra, Fascinação começou a ser gravada, em maio de 1998, sem data para ir ao ar.

“Estou tranquilo porque há um projeto de levá-las para outros países”, contemporizou Walcyr Carrasco em entrevista ao Globo.

No entanto, quase que imediatamente após o início dos trabalhos, Silvio Santos programou o lançamento para o dia 25 do mesmo mês, data definida pela concorrente para a estreia da polêmica Torre de Babel.

Para ganhar tempo, e não estourar o orçamento de R$ 20 mil por capítulo, o diretor geral Henrique Martins concentrou as filmagens nos estúdios do canal. O Palácio dos Campos Elíseos, sede do governo de São Paulo no início do século XX, abrigou sequências do baile de formatura em que Carlos Eduardo e Clara se conhecem.

Guerra nos números

Programa do Ratinho - Ratinho
Ratinho à frente de seu programa no SBT (Francisco Inácio / SBT)

A princípio tímida, a audiência de Fascinação acabou estabilizada em torno dos 8 pontos após a quarta semana de exibição, mesmo enfrentando a trama das oito da Globo e Ratinho Livre, fenômeno comandado por Ratinho na Record. Os espectadores não resistiram ao dramalhão de Clara, obrigada por Alexandre a trabalhar em um bordel para reaver a posse do filho que tivera com Carlos Eduardo, então casado com Berenice (Samantha Dalsoglio).

O êxito levou ao aumento do tempo de arte, que, nos primeiros capítulos, girava em torno de 20 minutos.

“Só estamos aguardando a produção entrar no ritmo. Acontece que o projeto do SBT é de produzir novelas para vender para o exterior, e o formato internacional das tramas é menor. Mas daqui a pouco cada capítulo já estará com 44 minutos como as outras novelas brasileiras”, relatou Walcyr ao Globo.

“Eu ganhei, inclusive, um carro importado do Silvio Santos, como prêmio pela audiência que a novela dava. O tema de ‘Fascinação’ era ousado, mas foi narrado numa linguagem romântica. Por isso, quando me perguntam o que deve ou não ser proibido em novela, eu sempre digo: ‘Tudo é permitido. Depende da forma como o autor conta’. Eu coloquei uma prostituta recebendo dinheiro de cliente, no SBT, e o público não rejeitou. Todo mundo entendeu a história, houve receptividade”, celebrou o autor em depoimento ao projeto Memória Globo.

Em agosto, com a propaganda política relativa à eleição presidencial, Fascinação perdeu audiência. No mês seguinte, veio a guinada rumo aos dois dígitos de média semanal. Foi quando Ratinho deixou de ser concorrente. Contratado pelo SBT, o apresentador passou a entrar no ar logo após a saga de Clara.

O México é aqui

Walcyr Carrasco
Walcyr Carrasco (Léo Rosario / Globo)

A “mexicanização” apontada por Nilton Travesso ficou evidente em Fascinação não só pelo estilo melodramático imposto por Walcyr Carrasco.

“‘Fascinação’ é uma novela de personagem, pois ela é centrada no sofrimento da protagonista Clara. Faço até questão de afirmar que a novela tem os moldes dos folhetins mexicanos”, alertou Carrasco em entrevista ao jornal Folha de São Paulo antes do lançamento da obra.

A inspiração, aliás, foi numa história real:

“Houve em São Paulo uma grande dama da sociedade que havia sido prostituta. Mas não posso revelar o nome”.

Ex-funcionário da Televisa, Ulises Aristides atuou nos bastidores da produção. Em matéria da Folha, o diretor geral Henrique Martins classificou o profissional como um “representante do SBT para vender os títulos na América Central”. Regiane Alves, por sua vez, entregou as orientações de Ulises quanto ao “modo mexicano” de fazer TV, que incluía a utilização do ponto eletrônico.

Nos créditos, Ulises Aristides era apontado como “produtor associado”.

Novela inédita de Walcyr Carrasco na gaveta do SBT

Fascinação - Caio Blat
Caio Blat como Gustavo em Fascinação (Francisco Inácio / SBT)

Outra prova do sucesso de Fascinação foram as ofertas da Globo para elenco e autor. O último capítulo da trama do SBT foi ao ar em novembro de 98. Dois meses depois, Heitor Martinez deu o ar da graça em Suave Veneno (1999), substituta de Torre de Babel às oito. Já Caio Blat, que passou anos no núcleo infantil do SBT antes de viver o jovem adulto Gustavo, pintou na minissérie Chiquinha Gonzaga. Em março, Caio e Mariana Ximenes, a Emília, surgiram em Andando nas Nuvens, às sete – ao lado de Fernanda Souza, a Mili de Chiquititas. Regiane Alves marcou presença em Meu Pé de Laranja Lima (1998), da Band, seguindo para a Globo em janeiro de 2000, com a minissérie A Muralha.

Walcyr Carrasco, antes da transferência para a casa na qual está até hoje, precisou cumprir uma das cláusulas do contrato que assinou após brilhar como roteirista de Xica da Silva. Silvio Santos determinou que ele entregasse duas novelas.

Além de Fascinação, Carrasco desenvolveu, com o auxílio de Mário Teixeira, todos os capítulos de Segredo, nunca produzida. A trama acompanha João Paulo, playboy obrigado a casar para não perder a herança do avô. Amante de uma ex-modelo casada, João Paulo articula um casamento de fachada com uma jovem do interior. Os dois, porém, acabam apaixonados. Ainda, um núcleo infantil e outro cômico, representado por uma dona de pensão.

O autor, que pretendia ambientar Segredo na década de 1950, mudou de planos quando fechou acordo com a Globo.

“Uma trama de época, por ser rica em detalhes, exige o acompanhamento do autor. Como eu não estaria mais no SBT quando a novela fosse produzida, trouxe-a para o presente”, revelou a Folha de São Paulo.

Escrito por Duh Secco

Sou apaixonado por TV e novelas desde a infância. Passei pelo blog Agora é Que São Eles e pelos sites Canal VIVA, RD1 e TV História. As análises, informações exclusivas e matérias sobre bastidores de produções do passado e do presente se estenderam às redes sociais. Agora, me dedico a um espaço próprio, sempre empenhado em levar o melhor do audiovisual aos que me acompanham.

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