Clássico de Manoel Carlos, História de Amor (1995) volta à tela da Globo nesta segunda-feira (10). A novela, estrelada por Regina Duarte e José Mayer, substitui Cabocla (2004) na faixa Edição Especial.
O título guarda diversas curiosidades, como a sinopse reprovada pelo Ministério da Justiça devido ao envolvimento amoroso de Carlos (Mayer) com Helena (Regina) e Joyce (Carla Marins), mãe e filha.
O site Duh Secco resgata essa e outras histórias para celebrar o retorno da trama à TV aberta, mais de 20 anos após a primeira e única passagem pelo Vale a Pena Ver de Novo.
Produção antecipada
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Em 1995, a Globo completou 30 anos de atividade. A festa incluiu o remake de Irmãos Coragem, às 18h. A obra, concebida por Janete Clair em 1970, consolidou a dramaturgia da casa e conquistou o público masculino a ponto de anotar mais audiência que os jogos da Copa do Mundo do México. A segunda versão, porém, não impactou o espectador. Sem êxito, mesmo após as intervenções de praxe, como troca de diretores e cenários, a emissora optou por encurtar a releitura, precipitando a volta de Manoel Carlos ao ar.
A ideia da Globo era que Maneco desenvolvesse Por Amor, apresentada por ele à empresa em 1983.
“Eu repeti que não era uma novela para as 18h. Então, escrevi ‘História de Amor’. Dois anos depois, em 1997, fui chamado para escrever uma novela das oito e, finalmente, pude fazer ‘Por Amor’”, contou ele ao site Memória Globo.
Além de Manoel Carlos, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares elaboravam um projeto para o horário. Haole, sobre o universo do surf, acabou engavetado quando Ana Maria e Ricardo foram designados para a supervisão de texto de Malhação, formato que a Globo lançou na semana de seu aniversário.
Com o apoio de Malhação, às 17h30, os índices de Irmãos Coragem cresceram e o prazo para a implantação de História de Amor foi estendido. Previsto para meados de junho, o folhetim teve sua estreia protelada para o dia 3 do mês seguinte. O tempo extra serviu para o diretor geral Ricardo Waddington concluir os trabalhos de Quatro por Quatro, no ar às 19h, e convencer José Mayer a aceitar o convite para ‘História’. O ator pretendia descansar por um longo período após finalizar as gravações de Pátria Minha, em março.
Escalação
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Já Fábio Assunção não topou a maratona. Protagonista de ‘Pátria’, ele declinou do chamado para Caio, mesmo com presença anunciada em uma edição especial do Vídeo Show, voltada para os lançamentos da Globo em 95. Ângelo Paes Leme assumiu o papel – e foi creditado no bloco “apresentando”, apesar do trabalho em Sonho Meu (1993), por conta do peso do personagem na narrativa.
Zé Mayer constava nos planos do autor desde a confecção da sinopse, assim como Regina Duarte, de volta às novelas após cinco anos de ausência, pela primeira vez em uma produção das seis.
Outro desejo de Maneco envolvia Carolina Ferraz, então de licença-maternidade. A atriz constava na lista de nomes pretendidos para a minissérie Decadência quando História de Amor entrou no circuito.
“Fui chamada para a minissérie antes da novela e gostaria muito de fazer esta personagem. Mas houve uma reunião de cúpula na Globo para decidir o meu caso e eles resolveram priorizar a novela. Por mim, faria tudo. Já que resolvi voltar ao trabalho…”, declarou ela ao jornal O Globo.
Com a escalação para Paula, noiva de Carlos, Carolina também ficou de fora da apresentação da série jornalística Contagem Regressiva, comandada apenas por Pedro Bial.
A prioridade dada a História de Amor ainda afetou Malhação. Nuno Leal Maia, que chegou a ser creditado na abertura da soap opera, foi deslocado para Assunção, atleta do remo, ex-marido de Helena e pai de Joyce.
Já Christine Fernandes fez teste para Vandinha (Cláudia Lira) a convite de Waddington, que a conheceu numa breve participação em Quatro por Quatro. A atriz acabou escalada para Marininha, funcionária da agência de turismo apaixonada por Bruno (Cláudio Lins), um dos pretendentes de Joyce. Logo após o último capítulo, e certamente embalados pela repercussão de ‘História’, Christine e Cláudio protagonizaram Perdidos de Amor (1996) na Band.
Coincidências
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Dennis Carvalho, o Gomide, precisou se ausentar das gravações para dirigir Explode Coração. A trama de Gloria Perez para 20h30 foi antecipada devido ao atraso dos trabalhos de O Rei do Gado (1996) e à presença de italianos tanto no enredo de Benedito Ruy Barbosa quanto no folhetim que deveria substituir, A Próxima Vítima, de Silvio de Abreu.
Aliás, por conta do Marcelo (José Wilker) de ‘Próxima Vítima’, Manoel Carlos alterou o nome do protagonista, de Marcelo para Carlos Alberto.
Outra mudança relacionada ao título contemporâneo das oito foi a da cantina italiana de Mauro (Umberto Magnani), batizada Ristorante Goldoni, que passou a ser um restaurante de clube. Ana (Susana Vieira), de A Próxima Vítima, era proprietária de uma rede de pizzarias.
Conflito rejeitado
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Submetida à avaliação do Ministério da Justiça, História de Amor foi classificada como imprópria para menores de 14 anos, com exibição recomendada para 21h, devido ao triângulo amoroso formado por Carlos, Helena e Joyce.
“Na sinopse original, que escrevi antes de saber em que horário a novela seria exibida, o Carlos teria um rápido romance com a Joyce no fim da trama, depois de muito tempo afastado da Helena. Jamais colocaria os três juntos. Não faria isso nem se me pedissem”, argumentou Maneco em entrevista ao jornal O Globo.
A Globo alegou ter encaminhado, equivocadamente, o primeiro tratamento do texto para o MJ, solicitando revisão da decisão da diretora do Departamento de Classificação Indicativa, Margrit Dutra Schmidt, que também se manifestou via O Globo:
“O que estava na primeira sinopse era muito forte para a novela das 18h. Agora, a Joyce apenas se insinuará para o Carlos na tentativa de implicar com a mãe. Uma birra de adolescente, que cabe perfeitamente no horário”.
Alterações
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O projeto inicial previa o acidente e a paraplegia de Assunção após uma discussão com Helena. Joyce, desesperada com a situação do pai, entrava em trabalho de parto. O bebê, prematuro, não resistia. A culpa de toda a tragédia recaía sobre a mãe, enquanto a filha encontrava apoio em Carlos. Joyce aproveitava-se da situação para pichar a reputação de Helena diante do médico, ao mesmo tempo em que induzia a genitora a acreditar no relacionamento dos dois. Ainda, o envolvimento de Assunção e Sheila (Lilia Cabral), fisioterapeuta encarregada da reabilitação dele.
No segundo tratamento, Assunção ganhou uma nova família: a esposa Valquíria (Cláudia Mauro) e o filho Luizinho (André Ricardo). Sheila cresceu em importância, tornando-se rival de Helena e Paula na disputa por Carlos.
Nas duas versões, os perfis de Rafaela (Marly Bueno) e Zuleika (Eva Wilma) destoam dos apresentados na TV. A esnobe Rafaela foi concebida com uma italiana simpática, responsável pelos pratos da cantina da família. Zuleika, por sua vez, era uma figura em busca de juventude, envolvida com homens mais novos, enquanto o marido Rômulo (Cláudio Corrêa e Castro), aposentado, adotava uma filosofia zen – os dois chegavam a dividir a casa em duas alas, uma “moderninha” e outra voltada para a espiritualidade.
Helena, a princípio, era “faz-tudo” de uma faculdade particular, o que garantia uma bolsa de estudos para Joyce, colega de Caio no curso de Turismo. A separação dos dois, por sinal, desencadeava o namoro do rapaz com Soninha (Flávia Alessandra).
Vários nomes foram alterados, além do de Carlos: Paula nasceu Sandra, enquanto Gomide atendia por Clodoaldo; Daniel (José de Abreu) era chamado Toledo; Xavier (Ricardo Petráglia) respondia por Ferreira; e Fabinho (Guilherme Faro) era tratado por Beto.
Nas duas sinopses, Maneco vislumbrou o mesmo final: Helena e Carlos passeando pelo Rio de Janeiro em meio à gravação de uma novela.
Outras curiosidades
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História de Amor contou com gravações no Vale dos Frades, em Teresópolis. O hotel Rosa dos Ventos foi apresentado como a casa de campo de Carlos.
A imprensa chegou a noticiar a envolvimento, na vida real, dos namorados na ficção Cláudio Lins e Carla Marins. Os dois não comentaram as notícias a respeito.
Cláudio Corrêa e Castro e Hugo Gross (Leonardo) reclamaram do desenvolvimento de seus personagens em entrevista ao Globo.
“Em 18 anos de trabalho na Globo, meu primeiro e único protagonista foi o doutor Arnaldo de ‘Engraçadinha’. Apareci em seis capítulos e foi maravilhoso. Não estou reclamando da novela, mas acho que todo ator quer fazer um bom papel e nessa história os homens foram deixados de lado”, lamentou Cláudio.
“A novela é um sucesso, e eu queria fazer parte desse sucesso. Não tenho a audácia de querer ser protagonista, mas sim de mostrar um bom trabalho”, afirmou Hugo.
A Ancief (Associação Niteroiense de Deficientes Físicos) prestou assessoria à equipe nas cenas de Assunção. Nuno Leal Maia se emocionou ao contracenar com o atleta paralímpico Luiz Cláudio Pereira.
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